O conceito de líder como servo iniciou bem antes dos tempos modernos, quando Jesus Cristo confrontou a abordagem de liderança predominante de sua época, baseada em poder e autoridade:
Então Jesus os chamou e explicou: “Vocês sabem que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem poder sobre as nações. Não será assim entre vós. Ao contrário, quem desejar ser líder entre vós será esse o que deva servir os demais. E quem quiser ser o primeiro entre vós que se torne vosso servo. Assim como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como único resgate por muitos.” Mateus 20: 25-28 (Versão King James Atualizada).
Essa radical visão sobre liderança foi ignorada por um largo tempo até ser introduzida novamente por Greenleaf (1991) e estabelecida em 1977, com a publicação do livro Liderança Servidora, embora o termo já tivesse sido proposto pelo mesmo autor em uma apresentação feita em 1970 chamada Servant-Leadership (Spears, 2005).
Expoentes da literatura contemporânea sobre liderança, tais como Lary Spears, Peter Senger, Stephen Covey, James M. Kouzes, Barry Z. Posner, Jim Laub, Ken Blanchard e outros, atestam que, desde o final do século passado, começamos a perceber que os modos tradicionais de liderança, hierárquicos e autocráticos, paulatinamente vão cedendo espaço para um novo modelo, baseado no trabalho em equipe, na reciprocidade, na transparência e basicamente no cuidado. Um modelo que está voltado a compreender não só a ação eficaz, mas, a ação voltada para a felicidade e bem-estar dos indivíduos. Um modelo em que o líder entende que seu papel principal é criar as melhores condições de trabalho, promovendo a integração de ideias, a cooperação, a interdependência, a responsabilidade mútua pelo sucesso e a comunicação aberta entre todos dentro da organização.
Os modelos convencionais de liderança focalizam essencialmente os aspectos relacionados com o comportamento e a personalidade dos líderes como fatores determinantes de sucesso na liderança, mas deixam de explorar mais profundamente o lado dos líderes e seus seguidores como pessoas humanas, com seus valores pessoais, necessidades íntimas e motivos interiores, que, em última instância, determinam quem e o que as pessoas realmente são. Nesse contexto, a Teoria da Liderança Servidora apresenta-se como uma resposta a essa lacuna, enfatizando que a própria essência da liderança é o desenvolvimento das pessoas e sua realização pessoal, cujo crescimento e bem-estar são o objetivo último da liderança. Assim, ser líder significa ser uma pessoa a serviço de outras, tendo como satisfação pessoal a satisfação dos companheiros, vendo no crescimento e progresso dos seus seguidores o seu próprio progresso e crescimento, e, no bem-estar de cada um, o seu próprio bem-estar. É assim que o líder com a visão de servir cresce: fazendo os outros crescerem. As pessoas não se lembram de nós por aquilo que fazemos por nós mesmos. Elas se lembram de nós pelo que fazemos por elas e para elas.
Este artigo é uma introdução a uma série de artigos sobre liderança cristã que serão publicados nas próximas quartas-feiras.
REFERÊNCIAS:
Blanchard, K. (2018). What is Servant Leadership? In K. Blanchard & R. Broadwell (Eds.), Servant Leadership in Action: How You Can Achieve Great Relationship and Results (pp. 07-13). Berrett-Koehler Publishers.
Covey, S. R. (2005). O 8o Hábito: Da Eficácia a Grandeza. Rio de janeiro: Campus.
Greenleaf, RK (1991). Servant Leadership: A journey into the nature of legitimate power greatness. Paulist
Kouzes, J. M & Posner, B. Z. (2008). O Novo Desafio da Liderança. (2ª Ed.). Rio de Janeiro, RJ: Campus.
Kouzes, J. M. & Posner, B. Z. (2007). Líder Mestre. Rio de Janeiro, RJ: Campus.
Laub, J. (2017). 40 Days Toward a Servant Leader Mindset. Printed in the United States of America.
Senge, P. M. (1994). A Quinta Disciplina: A Arte e a Prática da Organização que Aprende. 21a Edição. Rio de Janeiro: Best Seller
Spears, L. C. (1994). O Líder-Servo: Rumo a uma Nova Era de Dedicação e Amor ao Próximo. Em Renesch, J (Editor). Liderança para uma Nova Era– Estratégias Visionárias para a Maior das Crises do Nosso Tempo. (pp 209-220). (9ª Ed.). São Paulo, SP: Cultrix.