Ser ou não ser professor?

Creio sinceramente que nossa principal atividade não é ensinar, mas aprender com nossos alunos o que realmente é importante para eles e para nós.

Philosophy and Mission October 31, 2018

Você já deve ter ouvido várias vezes a célebre frase de Sócrates: Conhece-te a ti mesmo. O autoconhecimento é algo imprescindível para um bom desenvolvimento pessoal como também profissional.

Jesus, o Mestre dos mestres, sempre se preocupou com os seres humanos e a visão que tinham como filhos de Deus. Somo herdeiros do Criador do universo, criados a Sua semelhança, com características próprias e com possibilidade de desenvolvimento extraordinário. Mas, para que esse desenvolvimento seja possível, precisamos conhecer a nós mesmos e do que somos capazes.

Como seres humanos, estamos envolvidos em uma frenética correria onde o ter assume o lugar do ser. Cada vez mais estamos substituindo valores sólidos por recompensas imediatas, por isso precisamos avaliar sobre o que somos e o que queremos fazer de nossa vida.

O que é essencial e o que é fundamental para o ser humano existir e viver? Existe diferença entre esses conceitos? Essencial é tudo aquilo que eu e você não podemos deixar de ter: felicidade, amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, espiritualidade. Já fundamental, é tudo aquilo que ajuda a mim e a você a chegar ao essencial. Fundamental é o que lhe permite conquistar algo. Logo, trabalho não é essencial, mas é fundamental. Isso porque não trabalhamos para trabalhar, mas fazemos para alcançar felicidade, amizade, comodidade e outros aspectos.

É bem provável que muitos professores e agentes educativos, atarraxados pela pressão do dia a dia tenham parado para pensar e questionar: para que viver essa vida maluca de cobranças e falta de compromissos por parte dos alunos? Por que fazer tudo isso se a única coisa que eu recebo em troca é um salário que não dá para cobrir minhas despesas? Aonde vou chegar com tudo isso?

A satisfação como educadores, não advém apenas de um salário. Se a recompensa do ato de educar for única e exclusivamente por um contracheque no final do mês, não estamos realizando algo essencial, mas apenas fundamental como uma ferramenta de sobrevivência.

Eu preciso me ver naquilo que faço. Reconhecimento por parte da escola, dos alunos, dos pais dos alunos, uma sociedade, mas o principal reconhecimento daquilo que faço deve vir primeiramente de mim mesmo, do contrário, eu não me realizo. Para me ver como um educador de sucesso, preciso me ver como parte do processo de transformação de vidas. Mesmo que minha participação seja pequena, eu preciso me ver como parte do processo.

Qual é nossa atividade como educadores? Creio sinceramente que nossa principal atividade não é ensinar, mas aprender com nossos alunos o que realmente é importante para eles e para nós. É aprender diariamente a renovar nossas ideias, com o objetivo de inovar nossas ações. É aprender que somos capazes de fazer a diferença, pelo simples fato de sermos diferentes quanto à visão que temos do mundo. Nossa atividade inclui sermos capazes de inspirar crianças e adolescentes, inspirar ideias, projetos, situações e decisões.

Quando damos algo a alguém nos tornamos sócios. Ser sócios de nossos alunos é dar um pouco de nós, e receber um pouco deles. Ao darmos um pouco de nós, estamos deixando nossos alunos mais parecidos conosco. Se soubermos o que damos, saberemos o que recebemos. Isso é profundo e emblemático, pois além de gratificante é responsabilizante. Como resume o escritor Antoine De Saint-exupery em sua obra O Pequeno Príncipe, “somos responsáveis pelo que cativamos”.


Nota: Artigo escrito e postado em Português.

Author

Douglas Menslin

Douglas Menslin é doutor em História da Educação, pesquisador e professor universitário. Diretor Geral do Centro Universitário Adventista São Paulo – Campus São Paulo, Brasil. Atua na educação adventista há 30 anos, com experiência em gestão e formação de professores. É autor de 9 livros na área de ensino e administração escolar.

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