Desde cedo, as crianças para as quais se lê frequentemente desenvolvem uma grande sensibilidade para a linguagem e para o conteúdo das histórias.
“O lar e a escola eram uma coisa só. Em vez de lábios estranhos, devia o coração amoroso dos pais e das mães instruir os filhos. Os pensamentos de Deus eram relacionados com todos os acontecimentos da vida diária no lar. As grandes obras de Deus no libertamento de Seu povo eram referidas com eloqüência e a mais profunda reverência. Gravavam-se no espírito juvenil as grandes verdades da providência de Deus e da vida futura, familiarizando-os assim com o verdadeiro, o bom e o belo.” (Ellen G. White)
Há uma queixa antiga entre os/as professores/as de que os pais não acompanham a vida escolar das crianças e, portanto, não participam efetivamente do processo de aprendizagem destas. Por outro lado, há também um discurso permanente dos pais sobre a necessidade de seus filhos terem sucesso na escola, sobretudo no que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita. O que efetivamente pode ser feito para que a escola e a família estejam juntas no processo de formação de leitores/as?
Partindo do pressuposto de que intervenções familiares podem ser feitas para que as crianças percebam a importância da educação em suas vidas e desenvolvam o senso de valor pela leitura, com a mediação de pais ou pessoas próximas, com o objetivo de favorecer o envolvimento das famílias no processo de alfabetização-letramento das crianças. A partir da modificação de alguns fatores ambientais em casa, como a disponibilidade de materiais de leitura, a frequência de momentos de leitura em família, bem como a compreensão da natureza das interações de alfabetização leitura entre pais e filhos e das atitudes dos pais em relação aos seus papéis no processo de formação de leitores.
O desenvolvimento da alfabetização na criança está relacionado às práticas cotidianas (socioculturais) de participação em eventos de leitura e escrita. Nesta direção, os estudos sobre letramento (SOARES, 1998) focalizam as dimensões sócio-históricas na aquisição da língua escrita, mostrando que indivíduos não-alfabetizados, mas partícipes das sociedades letradas (da cultura, dos modos de produção e dos valores sociais) constroem concepções a respeito do sistema de escrita e identificam seus diferentes usos e funções. Ou seja, dentro do contexto social e do contexto familiar da criança ocorrem práticas e usos da escrita e da leitura, de forma natural e espontânea, das quais ela participa direta ou indiretamente.
O letramento decorre dessa participação, da vivência de situações em que o ler e o escrever possui uma funcionalidade, uma significação. Os atos cotidianos, corriqueiros, de ler um jornal, redigir um bilhete, ler um livro, fazer anotações, ler a Bíblia, ou seja, usar textos escritos como fonte, seja de informação, seja de entretenimento, contribuem para que as crianças percebam as diferentes formas de apresentação do texto escrito, bem como para que identifiquem seus diferentes sentidos e funções e o resgatando a (inter)relação entre pais e filhos/as como afirma a escrita White, em seu livro Orientação da Criança, 2014 p.124.
Conforme Spiegel (2001), os pais que têm relacionamentos de prazer com a leitura, a probabilidade de que as crianças aprendam a apreciar a leitura também é bem maior. Numerosos estudos têm mostrado que ao compartilhar um livro com as crianças em fase de alfabetização inicial não apenas se cria uma atividade prazerosa, mas também se organiza um importante momento de aprendizagem. “Com essa atividade, as crianças aprendem que a linguagem dos livros tem suas próprias convenções, e que as palavras podem criar mundos imaginários para além do aqui e agora” (TEBEROSKY, COLORMER, 2003, p. 20).
A leitura de histórias é importante também para o desenvolvimento do vocabulário e para a compreensão de conceitos, além de facilitar o conhecimento da função da escrita e motivar para aprender a ler e escrever, o que para nós é um dos aspectos mais importantes. Desde cedo, as crianças para as quais se lê frequentemente desenvolvem uma grande sensibilidade para a linguagem e para o conteúdo das histórias.
REFERÊNCIAS
SPIEGEL, Dixie Lee. Um retrato dos pais de leitores bem-sucedidos. In: CRAMES, Eugene, H., CASTLE, Marrietta (orgs.). Incentivando o amor pela leitura. Porto Alegre: ArtMed, 2001.
SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Autêntica, 1998.
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. As primeiras experiências das crianças com a linguagem escrita. IN: Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: ArtMed, 2003, p.15-38.
WHITE, Ellen Gold, Orientação da Criança. Conselhos aos pais Adventistas do Sétimo Dia. Tatuí-São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2014.